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Ameaças de ataques nas escolas afetam saúde mental dos estudantes baianos

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Convivendo com boatos nas redes sociais, jovens sofrem ansiedade e crises de pânico

Desde a ocorrência de ataques em escolas em estados do Brasil, no final de março, boatos de novas ameaças surgem diariamente nas redes sociais. Com acesso facilitado a esses conteúdos que se disseminam por plataformas como WhatsApp, Twitter e TikTok, estudantes baianos vêm sofrendo com crises de pânico e ansiedade por temerem um possível ataque nos locais onde estudam.

Os efeitos das ameaças sobre as crianças e adolescentes podem ser devastadores. Ester de Jesus, 14, vêm sofrendo crises de pânico e ansiedade. Ela é estudante do 8° ano em um colégio estadual de Salvador e, desde que os boatos começaram a circular nos grupos de WhatsApp, ela teme ir para a aula. 

Segundo a adolescente, o ambiente escolar tem sido hostil. A nova rotina no colégio envolve a busca por lugares “bons para se esconder” e colegas de sala que levam tesouras, facas e outros objetos pontiagudos para se defender de possíveis ataques. “Eu tenho medo. Ainda não encontrei um esconderijo para mim, mas se algo acontecer eu não vou ficar. Vou buscar minha irmã e fugir”, conta. 

Esses são sentimentos que ela tem enfrentado desde que assistiu às coberturas jornalísticas na televisão sobre os ataques em uma escola de São Paulo, no dia 27 de março e outro em creche de Santa Catarina, na última quinta (05). “Eu imaginei que também poderia acontecer na minha [escola]. Tive medo de morrer também”, descreveu a estudante.

A ameaça mais recente e que mais tem sido compartilhada é a do ‘massacre em massa’ previsto para o dia 20 de abril. Segundo mensagens encontradas nas redes sociais, os ataques seriam uma referência ao aniversário do Massacre de Columbine, ocorrido em 1999 no Colorado, nos Estados Unidos. 

Maurício Rosa Lima, Diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência, afirma que a Guarda Civil está atenta aos boatos e que operações estão sendo mantidas para garantir a segurança dos estudantes e trabalhadores das escolas. “Nós pedimos o reforço de 10 viaturas, que estão sendo providenciadas para que a gente tenha o mais rápido possível essas operações rodando em todas as escolas municipais”, afirma Lima.

Indianara de Jesus, 12 anos, é irmã de Ester. As duas estudam no mesmo colégio. Diferente da mais velha, ela acredita que as ameaças de um ataque no dia 20 são apenas boatos. Ainda assim, não pretende ir para a escola na data. O motivo é a preocupação e o medo que sente ao ver o pânico dos colegas e de ouvir as teorias que circulam nos corredores. 

“Eu perguntei a um professor se os boatos eram verdadeiros, mas ele mudou de assunto. Não acredito que um ataque seria avisado, mas tenho medo de que algo possa acontecer em um momento que a gente não espere. Ver Ester assustada também me assusta”, afirmou. 

Quem acompanha a rotina das adolescentes na escola, é a irmã mais velha delas, Paloma Neri, 24.  Ela soube dos boatos de ataques pelas meninas e, desde então, vive angustiada. “Por mim elas não iriam mais para a escola […] A gente fica preocupado, não tem jeito. Decidi postar um alerta no Instagram, porque tenho muita gente do bairro e alguém poderia ter algo para compartilhar”, contou. 

A direção do colégio onde as adolescentes estudam informou que vem acompanhando os boatos e que tem agido com cautela para não gerar pânico entre os estudantes. 

Impactos a curto e longo prazo
De acordo com um estudo sobre efeitos de ataque escolar na saúde mental das crianças, realizado na Universidade de Stanford, em 2022, crianças expostas a invasões nas escolas sofrem mais do que se fossem expostas à violência em outros locais. Segundo Maya Rossin-Slater, responsável pela pesquisa, isso acontece pela confiança que as crianças têm no ambiente escolar, e essa ruptura num lugar que elas associam à segurança faz com que o trauma seja ainda maior. Além disso, a pesquisa aponta que nos estudantes mais velhos, ataques em escolas levam a desistência dos estudos e a um declínio nas notas.

Para Ivana Braga, psicopedagoga e especialista em neuropsicologia, é crucial que haja ação conjunta da escola e da família para conter os danos psicológicos causados aos jovens. “Caso a escola e a família não se unam em prol de um trabalho coletivo e social na mediação de conflitos, estes episódios poderão gerar em muitos estudantes a sensação de falta de proteção, medo, ansiedade, contribuindo ainda mais para a manutenção de um ambiente tóxico, o que a escola não deveria e nem deve ser”, afirma.

Os dias após os boatos têm sido difíceis para a representante de portas, Eduarda Trindade, de 31 anos, mãe de estudantes de 11 e 3 anos. Os dois estudam em uma escola de Salvador. Desde que soube do problema, ela tem evitado permanecer mais tempo do que o necessário na porta da instituição de ensino. O estado de alerta tem sido constante. 

Outra tarefa difícil é contar a situação para os filhos e saber como ensiná-los a se proteger. Para preservar a saúde mental das crianças, ela preferiu não tratar do assunto com eles. Em vez disso, tem cobrado estratégias de segurança mais efetivas da direção da escola. “Eu quero chegar e encontrar guardas, rondas no bairro ou até segurança particular. O lugar que eu achava mais seguro depois da minha casa, deixou de ser”, conta Eduarda, afirmando que não pretende levar os filhos para a escola no dia 20 deste mês.

Risco também para os professores
M. A. Soto, de 51 anos, está há quase metade de sua vida em sala de aula. A professora afirma que todos os docentes estão em alerta máximo nos últimos dias. “Estamos observando as reações, os olhares, os semblantes, os objetos que circulam na escola. Fiscalizamos as ações dos alunos durante a aula, ao passar nos corredores”, conta. 

Apesar de assumirem, extraoficialmente, a função de fiscalizadores e apaziguadores, os professores também se sentem ansiosos com as ameaças crescentes. Para a professora, é necessário que os pais façam sua parte na supervisão dos filhos. “Nós, professores, claro que ficamos receosos com a falta de segurança nas escolas e na rua e chateados por tanta divulgação e exposição de violência nas redes sociais. Como é de conhecimento geral, violência gera violência. Os pais devem permitir o uso de redes sociais só depois de certa faixa etária e, mesmo assim, deve ser supervisionado diariamente”, diz a professora.

Boato na capital
Na manhã desta quarta-feira (12), vídeos e áudios circularam pelo WhatsApp com rumores de uma tentativa de atentado no Colégio Estadual Marechal Mascarenhas De Morais, em Itapuã.   

Mas tudo não passou de um mal-entendido. Segundo ele, o que aconteceu foi que a Guarda Civil Municipal recebeu esse alerta e foi até o local e constatou que o suspeito do suposto ataque era um rapaz fazendo uso de entorpecentes, que estava em uma árvore próxima ao colégio e assustou os alunos e professores. 

Após a chegada da Guarda Civil, Maurício Rosa Lima, Diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência, relata que houve o controle da situação e que a guarda permaneceu no local para tranquilizar estudantes, professores e familiares.

*Orientadas pela chefe de reportagem Perla Ribeiro

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