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Atenção com o corpo e a mente: os cuidados com as crianças atletas

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Atletas precisam de acompanhamento multidisciplinar envolvendo não só a parte biológica, mas também o lado mental

Ser atleta na infância e na adolescência é uma missão difícil. Abrir mão de algumas regalias da idade em prol de um objetivo futuro requer mais maturidade e dedicação por parte desses indivíduos que têm no esporte sua fuga para os problemas do dia a dia ou seu propósito de carreira.

Muitas vezes é necessário trocar um período de descanso por um treino, a companhia dos amigos pelo sono regular e, além disso tudo, equilibrar com as responsabilidades escolares – essas inegociáveis.

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Quem olha de longe essa turma de jovens atletas que se dedicam desde cedo ao esporte, como Cauzinho, Bruna, Alexandre e Adrian pode imaginar que essa maturidade as tornam jovens menos sensíveis ou até “menos crianças”.

Mas a verdade é que, mesmo diante dessa turma, é difícil não perceber os comportamentos de quem ainda vive a infância e adolescência. Fora do box do crossfit, as ‘carinhas marrentas’ que posam para as fotos dão lugar ao sorriso de quem faz o que gosta e até a vergonha e timidez de dar entrevista, serem fotografados e filmados. O jogo vira quando eles incorporam, de fato, os atletas pesos pesados nos treinos e competições.

E a paixão pela competição no levantamento de peso que une todos eles expõe as similaridades nas rotinas de treinos e na forma como eles, que estão na transição da infância para a adolescência, encaram o esporte em suas vidas.

O bom desempenho nos esportes lhes rendeu reconhecimento, que levou à ‘fama’ e, consequentemente, vidas expostas nas redes sociais, onde compartilham diariamente seus treinos com fotos e vídeos.

Mesmo com a supervisão dos pais, é claro que a imagem dos jovens é alvo de opiniões alheias e, muitas vezes, de haters da internet. A psicóloga Manoela Lainetti, mestre em psicologia social, explica como a exposição da rotina de uma criança que segue a vida de atleta pode impactar em seu dia a dia fora das telas.

“As crianças são afetadas pelo que recebem pelas redes sociais da mesma forma que na vida não-virtual. A criança pode se sentir compelida a treinar mais se perceber que isso traz elogios e likes para ela – e sem cuidado, isso pode significar estresse, esgotamento, lesões, etc. Da mesma forma, pode se sentir desmotivada, com raiva de si e do outro a partir de haters e discursos de ódio. A questão é que as redes sociais permitem que as crianças e adolescentes tenham contato com um número infinitamente maior de pessoas, que acham que podem falar o que quiserem e que, por vezes, não estão preocupadas com aquela criança”, comenta a especialista.

Em relação ao grupo entrevistado pela reportagem, nenhum deles ou dos responsáveis relatou grandes problemas com o ‘hate’ nas redes sociais.

Em casa, o equilíbrio também é a chave para a saúde mental desses pequenos atletas. Cauzinho relata que, apesar de toda a intensidade dos treinos, ainda encontra tempo para ir ao cinema com os amigos, brincar no playground do prédio e, com o fôlego e energia que só as crianças têm, jogar bola com amigos depois do treino. Esse balanço entre a responsabilidade de atleta e a vida comum de uma criança são elementos que impactam na formação desses indivíduos.

“É imprescindível que a criança possa continuar fazendo “coisas de criança”. Algo ao qual não damos tanta importância, mas que é absolutamente fundamental para o bom desenvolvimento, é o brincar. É através do brincar que a criança se relaciona com o mundo, que ela elabora aquilo que vive, que ela, inclusive, aprende. Assim, a criança ter tempo livre para brincar é inegociável. A escola, o convívio com familiares e coleguinhas, a possibilidade de fazer outras atividades que goste também entram no rol do que é de extrema importância”, completa Manoela Lainetti.

Essa vivência como criança precisa ser equilibrada com essa rotina de atleta, como já foi citado. Por isso, a psicóloga reforça que crianças que vivem essa realidade precisam incluir o acompanhamento psicológico ao longo do seu desenvolvimento. Além do cuidado com a fisioterapia e nutrição, o cuidado com o psicológico é fundamental.

“A vida de atleta não é fácil para qualquer um que se disponha a vive-la. Não à toa, muitos atletas têm acompanhamento multiprofissional e a psicóloga está incluída nisso. Para a crianças e adolescentes, essa vivência também pode se tornar problemática, dependendo da forma como ocorre. Lembrando que estamos falando de pessoas em desenvolvimento, o que significa que aquilo que acontece nesta fase da vida terá um impacto neste desenvolvimento, seja no aspecto físico e biológico, no social ou no psicológico. Além disso, é sabido que muito do que acontece na infância terá repercussões a longo prazo, isto é, coisas que aconteceram quando criança vão influenciar na vida daquela pessoa quando adulta”, completa a profissional.

Manoela Lainetti também chama a atenção para alguns sinais que precisam ser percebidos principalmente pelos pais ou responsáveis dos pequenos atletas. Alguns comportamentos podem indicar esgotamento mental o que, consequentemente, interfere no desempenho físico como atleta.

A psicóloga afirma que a “queda no rendimento escolar, problemas de sono, mudança de apetite, desânimo, cansaço, problemas frequentes de saúde, apatia, choro constante, necessidade de isolamento precisam ser entendidos [como sinais]”.

“Quando se trata de crianças pequenas, muitas vezes isso vai aparecer na forma da famosa ‘birra’. A ‘birra’ nada mais é que uma tentativa de comunicação. Os adultos têm mais recursos para conseguir entender e dizer claramente o que se passa dentro deles. As crianças ainda não, então elas vão manifestar de outras formas que algo não vai bem. Temos a cultura de negligenciar a saúde mental de crianças e adolescentes como se elas não sofressem ou como se seus sentimentos fossem bobagem ou frescura. Isso é um erro imenso”, finaliza a psicóloga.

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