Quem é o sem-teto de SP que coleciona livros e tem mania de limpeza

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No centro de São Paulo, um morador de rua chama atenção pela forma como transforma o que não tem fim em casa. Rabelo vive na esquina da Rua da Consolação, em frente ao número 318, onde montou um espaço sem paredes nem portas que ele chama de casa ou, às vezes, de acampamento. O local, embora humilde, se destaca pela limpeza e pela organização, especialmente entre as pessoas em situação de rua que ocupam a região.

O registro traz a origem de Rabelo: nasceu em São Luís do Maranhão, foi adotado pelo pai coronel da Polícia Militar e herdou o sobrenome da mãe, que morreu há cerca de four anos, seguida pelo falecimento do pai. Disse que a família, mesmo distante, era “rica” e que a pensão de 7 mil reais, deixada pela mãe, acabou bloqueada pelos irmãos. Aos 17 anos tatuou um cavalo no peito quando a mãe quis que entrasse para a polícia, mas ele não quis seguir a carreira.

Desde jovem, ele viajou pelo Brasil com a ajuda da mãe, visitando capitais e cidades menores, até se estabelecer, em 2015, em São Paulo. Confessa ter sido vaidoso e preconceituoso no passado, reconhecendo que o centro da capital oferece oportunidades de convivência com a população em situação de rua, e por isso prefere permanecer ali.

A queda na vida adulta ocorreu de forma gradual: sem a pensão, ele conheceu pessoas que o orientaram sobre alimentação e higiene, ficou em albergues, mas acabou optando pela rua, inicialmente na Mooca, para então se espalhar pela cidade. Hoje, declara não ter planos de sair da rua e não sonha com uma saída do sistema; afirma que o centro é o lugar onde consegue se adaptar mais facilmente.

Sobre as drogas, ele admite fumar cigarro e crack, tendo usado maconha e cocaína no passado. Um acidente recente o levou a quebrar os dentes, o que o fez encarar o crack como um meio de enfrentar situações difíceis ao lado de outros moradores de rua. Mesmo assim, ele trabalha com reciclagem para evitar pedir esmola, usando o dinheiro para alimentação simples e para manter o vício sob controle, segundo ele.

A vida de Rabelo também é marcada pela memória da mãe e pela expressão artística. Em 2015, ele passou a decorar o espaço com objetos encontrados na rua, como uma árvore de Natal alimentada por espuma de travesseiro e bolas descartadas, que depois ganhou uma homenagem às mulheres negras. A organização continua a ser a linha que atravessa seus dias, mantendo a memória da mãe viva.

Resumo em números: nos últimos seis anos, a população em situação de rua na capital quase triplicou, de cerca de 38,9 mil em 2018 para quase 100 mil hoje, conforme o Observatório da População em Situação de Rua (ObpopRua).

Rabelo afirma ter tido quatro filhos e dois netos e que uma de suas filhas tenta tirá-lo da rua, embora ele prefira que ela não saiba onde está. Mudanças constantes de ponto de descanso refletem o desejo de não ficar preso à mesmice e a uma vida que ele não planeja abandonar, ainda que reconheça os riscos envolvidos, principalmente entre moradores de rua que furtam objetos entre si.

No fim, ele resume o que vive como “o hoje, aqui e agora”. Em meio aos livros alinhados e ao chão varrido, a configuração de casa parece pronta apenas por aquele dia, sempre sujeita a mudanças e decisões que cabem a ele.

E você, o que pensa sobre a vida de quem escolhe a rua como morada temporária e mantém a dignidade por meio da organização e da cultura que encontra pelas ruas da cidade? Compartilhe seus pensamentos nos comentários.

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