Ela se declara filha de Feira de Santana, mesmo tendo nascido em Salvador. Diz que sempre teve o sonho de ser artista. Segue procurando o seu estilo e temática, mas acredita que o maior deles seja mesmo se expressar. Se acha uma eterna aprendiz, hiperativa e cheia de vontade de compartilhar com o mundo a sua arte repleta do �??axé e dendê que carrega no peito�?�, como ela mesma define.
Essa é Raiana Britto, a jovem de 25 anos dona das 17 ilustrações de Gilberto Gil que estampam o museu digital O Ritmo de Gil, lançado na semana passada pelo Google Arts & Culture, em parceria com o Instituto Gilberto Gil.
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Uma das 17 ilustrações feitas por Raiana Britto a convite do Google (Foto: Divulgação Raiana Britto) |
Aluna de Artes Plásticas na Universidade Federal da Bahia (Ufba), Raiana chegou a cursar Arquitetura, convencida da ideia de que arte não dá dinheiro, mas desistiu em 2017, quando percebeu que a escolha não tinha a ver com a sua paixão pelo desenho. Naquele ano, ingressou em Artes Plásticas.
Hoje atua como artista visual e designer gráfico, e a sua preferência é pela ilustração. Já participou de duas exposições e de um projeto do YouTube de vídeos curtos. Na pandemia, descobriu o mundo da arte digital após ganhar um iPad dos pais, Pedro e Jocélia.
�??Sempre trabalhei com desenho manual. Durante a pandemia, ganhei um iPad dos meus pais e comecei a investir no digital, e foi um sucesso. Muita gente querendo pra dar de presente, pra fazer caneca�?� Melhorou as minhas técnicas, cresci bastante, inclusive entrando em contato com outros artistas, pedindo para me divulgar em troca de artes�?�, conta.
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Raiana Britto, 25 anos (Foto: Acervo pessoal) |
A principal fonte de renda e de divulgação do trabalho é o Instagram, onde acumula mais de 11,5 mil seguidores. Foi lá que os responsáveis pelo projeto do Google conheceram a arte da jovem e, há cerca de dois meses, a convidaram para ilustrar ninguém menos que Gil, o primeiro artista vivo a receber a homenagem da plataforma global.
“As ilustrações de Raiana captam a essência do projeto ao retratar Gilberto Gil ao longo dos anos, ora acompanhado de amigos e familiares, ora sozinho em poses estáticas ou reflexivas. Raiana retrata os sorrisos gentis e o brilho nos olhos do artista, com uma paleta de cores vibrantes que dão o tom do projeto. Ela também compartilha com Gilberto Gil as mesmas raízes, sendo ambos de Salvador. Por meio do seu trabalho, ela reflete sobre questões sociais de raça, sexualidade e gênero”, afirma Valéria Gasparotti, gerente de programas do Google Arts & Culture.
Para a baiana, a ficha ainda não tinha caído no dia seguinte ao lançamento do museu digital. Ela disse que a deixaram livre para criar e que demorou mais pesquisando as fotos do cantor, compositor e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) do que desenhando propriamente.
As 17 ilustrações ficaram prontas em menos de 1 mês. �??Usei tons de que gosto, vivos, como o verde, o vermelho e o amarelo. Elementos que lembram a África, já que meu trabalho é relacionado à raça e negritude e quis colocar essas referências agora.�?� Ela comemora o fato de ter desenhado alguém tão grandioso e, agora, imortal.
�??Gosto de reafirmar as pequenas partes que me compõem, retratar o que não é muito visto. E é gratificante ver que muita gente se identifica. Mostrar que existem outras visões e formas de perceber outras realidades e vivências�?�, diz.
Dom
Incentivada pela família, Raiana desenha desde pequena. Sobre as memórias dessa fase, ela destaca o primeiro concurso de que participou e ficou em 3º lugar, ainda na 5ª série, desenhando um cavalo. �??Raiana sempre foi uma menina criativa, dedicada, sempre gostou muito de estudar, lia gibis da Turma da Mônica, adorava desenhar. Vi que ela tinha o dom para o desenho. Na época, eu sabia um pouco e a incentivei. Fazia pose para ela me desenhar. Hoje ela está muito bem, seguindo a carreira e torço muito pelo seu sucesso�?�, fala a tia Maria de Lourdes Pereira de Azevedo, cabeleireira de 43 anos.
O papel não limita mais a imaginação da jovem, que explora suas ideias sobre resistência também em cards, colagens, logos, quadros, e-books, paredes e murais. �??Sempre fui muito de fazer o meu e o que quis. No final, todas as minhas ideias e vontades sempre deram certo; o que não deu ficou de aprendizado�?�, relata.
Quem acompanha com interesse essa trajetória é o melhor amigo, Matheus Guimarães Costa, 25. �??Nos conhecemos desde os 11 anos, e ela já era talentosa. Eu me lembro que ela me mostrou um desenho, e eu fiquei impressionado com a qualidade, mesmo para o olhar de uma criança. Vê-la passeando por diversos tipos de arte, se conhecendo em outras maneiras de criar é um prazer imenso. E vê-la alcançar pessoas e espaços através da arte é inspirador pra mim�?�, diz o artesão e estudante de Engenharia Civil.
As produções podem ser conferidas em diversas plataformas na internet, como o site e as redes sociais da artista. Confira algumas na galeria:
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