No DF, 558 motoboys se acidentaram em pouco mais de um 1 ano

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No caminho para terminar uma entrega, o motoboy Fábio de Jesus Carvalho, 45 anos, bateu em um caminhão de gás no Lago Norte. O impacto foi fatal e o homem chegou ao seu destino antes mesmo de terminar o percurso que havia iniciado no Noroeste. O acidente ocorreu na manhã de 10 de fevereiro, e Fábio deixou a mulher e quatro filhos.

No Distrito Federal, ao menos um entregador sofre algum tipo de acidente por dia. Em apenas um ano e três meses, 558 motoboys se acidentaram nas ruas do DF. Os números constam em ocorrências registradas na Polícia Civil e levantadas via Lei de Acesso à Informação (LAI) e fazem um recorte de janeiro de 2023 até 18 de março de 2024.

“Ele estava na moto, o caminhão do gás parou, ele veio com tudo e bateu na traseira. Ele não resistiu, perfurou o pescoço dele, e veio ao óbito”, declarou a esposa de Fábio, Jaqueline Vaz de Souza. Fábio não era um novato no ramo. Havia pelo menos 20 que trabalhava como motoboy.

“Um homem muito experiente na moto, trabalhador, ele era qualificado, ele tinha o curso de motofrentista, ele andava com os coletes, a gente tinha muito colete aqui em casa, capa de chuva, tinha o símbolo do sindicato que refletia no baú da moto, ele sempre foi qualificado”, alegou a esposa de Fábio.

Fábio trabalhava em dois locais. Pela manhã, ele fazia entregas para empresas de manutenção e à tarde atuava para uma farmácia. “Ele sempre trabalhou de motoboy, sempre, a paixão do Fábio era a moto, era em cima da moto. Ele se sentia livre, se sentia solto, era em cima da moto”, declarou.

“Fui atropelado” A paixão por moto é presente na escolha profissional de outros entregadores. “É pouca oferta de emprego e, a cada pedido, o motoboy é mandado pro inferno e ainda agradece por isso”, contou um outro trabalhador da área, de 44 anos, que se acidentou também enquanto fazia entrega. Ele preferiu não ser identificado por orientação do advogado para não revelar estratégias da defesa em processo que move contra a motorista.

De acordo com ele, a condutora virou de repente em uma entrada no Noroeste, quando bateu de frente contra o motoboy. “Eu fui atropelado por ela”. O motoboy disse que a motorista apresentou álcool no sangue.

O acidente ocorreu em 15 de dezembro e o trabalhador ficou três meses hospitalizado e sem poder sequer pisar no chão. “Tive de usar fralda para minhas necessidades fisiológicas, depois fui para a cadeira de rodas e passar por algo assim assusta muito”, destacou.

Ele voltou a morar com a mãe e teve assistência da aposentada para o dia a dia. Ele deve ficar afastado do trabalho por seis meses, com sessões constantes de fisioterapia. “Eu amo moto, mas não vou mais trabalhar com isso. Você fica muito vulnerável e uma fratura aos 44 anos não é igual aos 22, por exemplo”, declarou.

Colisão Em novembro, Rone Azevedo, conhecido como Rone Boy, foi surpreendido com um pedestre correndo em uma via de Vicente Pires. Ele fazia entrega de comida, mas com a colisão foi jogado para o outro lado da calçada. Câmeras de segurança de um restaurante local flagraram o momento do acidente.

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“Eu estava trabalhando pela plataforma do iFood, aí tinha coletado o pedido, estava saindo pra entrega e esse rapaz saiu. Entre os carros, no sentido diagonal, e aí ele me acerta pela lateral, quando ele me acerta, me joga pra calçada, eu apago, não vejo mais nada. Quando eu abro os olhos, tô deitado na calçada, sem conseguir movimentar o corpo, todo dolorido, sentindo bastante dor”, declarou o motorista.

“Estou sem trabalhar desde 24 de novembro do ano passado, sem conseguir voltar a andar de moto e esse tempo todo”. Ele reclama de não ter recebido apoio financeiro e de sobreviver apenas com o apoio de familiares.

Rone Boy está sem trabalhar desde novembro Números Pelo levantamento da Polícia Civil do DF, foram 483 vítimas lesionadas em 2023, um caso por dia. O mesmo ano registrou três mortes de motoboys. De janeiro a 18 de março deste ano, os números de óbitos já são superiores a todo o ano passado, com quatro vítimas fatais.

Nesse mesmo período, 67 entregadores tiveram alguma lesão após acidentes de trânsito. O levantamento filtrou pela profissão motociclista, com o recorte específico para aplicativo, entregador ou motoboy; em casos de lesão deixando feridos ou mortos que tenham ocorrido em trânsito.

Casos de batidas mais leves sem vítimas não foram computados.

30 mil motoboys no DF De acordo com o Sindicato dos Motociclistas Profissionais (Sindmoto), são cerca de 30 mil motoboys pelas ruas do DF. “Há omissão do governo em relação aos acidentes”, destacou Luiz Carlos Garcia Galvão, presidente do Sindmoto.

Luiz Carlos apontou que as leis federais que impedem por exemplo que menores de 21 anos sejam motoboys. “Mas isso não impede que em toda UTI [Unidade de Terapia Intensiva] tenha um jovenzinho mais novo que isso acidentado”, declarou.

O presidente que fez parte da bancada dos trabalhadores dentro do Ministério do Trabalho criticou também o fato de o Projeto de Lei  nº 12/2024, conhecido como PL dos Aplicativos, não incluir os entregadores.

Os trabalhadores que prestam serviços por meio de motocicletas e bicicletas, como entregadores do iFood, por exemplo, ficaram fora da regulamentação. O motivo foi a falta de consenso com as empresas.

A proposta projeto define regras quanto à contribuição previdenciária, à remuneração, ao limite de jornada e à relação entre plataformas e motoristas.

“Essas plataformas digitais já estão há mais de 10 anos precarizando o setor”, acrescentou o presidente do sindicato. “Elas entraram dando recursos para caramba e agora não tem um acordo”, completou.

“Nossa proposta era R$ 35 a hora logada e eles ofereceram R$ 10”. Luiz Carlos destacou o risco para a vida do entregador a cada minuto que está fazendo uma entrega. “É uma profissão de risco daqueles que põem em risco sua integridade física pelo perigo iminente da sua profissão”

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